OSCAR: Até que ponto a maior premiação do cinema ainda é relevante?

 
Foto da Estatueta de Bronze / Divulgação / oscars.org

A maior premiação do cinema completa 97 anos no próximo dia 2 de março, e ao longo deste quase um século de existência, vem colecionando polêmicas e momentos marcantes. Nestes quase cem anos o nosso mundo passou por muitas transformações e a Academia sempre tentou acompanha-las, ainda que com notável atraso em alguns casos, mas será que ela ainda tem tanta relevância nos dias atuais?

Criada em 1929, a cerimônia que veio a se tornar o mais importante prêmio do cinema internacional - o Oscar nada mais é do que o "prêmio da firma" da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Desde sua criaçao, o Oscar passou por muitas transformações, sempre buscando se adaptar ao momento histórico em que era realizado - como quando as tradicionais estatuetas de bronze foram substituidas por gesso pintado durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo.

À partir de 1969 a cerimônia passou a ser televisionada para todo o mundo (ela já era transmitida para os Estados Unidos e o Canadá desde 1953), e foi aí que começou a atrair atenção e ganhar relevância, tornando-se uma grande plataforma de protestos e ativismo político ao longo dos anos. O primeiro grande protesto ocorreu em 1973 quando Marlon Brando, vencedor na categoria de Melhor Ator, recusou-se a receber o prêmio e enviou em seu lugar a atriz e ativista de origem indigiena Sacheen Littlefeather, que leu um discurso em protesto à forma que os povos indigenas americanos eram retratados pelo cinema e televisão da época.

  
Foto da atriz Sacheen Littlefeather, no Oscar / Divulgação / oscars.org
Houve também o protesto do fotógrafo Robert Opel, que na cerimônia de 1974 atravessou o palco correndo completamente nu, chamando atenção para os direitos LGBT+. Mais recentemente tivemos outras polêmicas, como por exemplo a "lambança" no anúncio do prêmio de Melhor Filme na cerimônia de 2017, onde Faye Dunaway e Warren Beatty anunciaram La La Land como vencedor quando o prêmio na verdade era do filme Moonlight, e em 2023 tivemos o que foi certamente um dos momentos mais lamentáveis da premiação: o infame tapa de Will Smith em Chris Rock, após o apresentador e comediante ter feito uma piada sobre sua esposa, Jada Pinkett Smith. 

Foto do tapa de Will Smith em Chris Rock / Divulgação / oscars.org
Mas as polêmicas que mais cercam a premiação da Academia giram em torno de temas muito mais sérios, como o racismo. Ainda em 1940, Hattie McDaniel tornou-se a primeira atriz negra a vencer o Oscar, por sua atuação em ...E o Vento Levou, mas o hotel onde acontecia o banquete possuia uma política muito estrita que proibia a presença de negros, o que fez com que ela tivesse que se sentar em uma mesa separada - e como se não bastasse, ainda recebeu uma placa ao invés da estatueta. O fantasma do racismo voltaria a assombar o Oscar 65 anos depois, na premiação de 2015 quando o diretor Spike Lee iniciou um movimento de boicote à cerimônia devido a total ausência de negros nas indicações das categorias de atuação. 


O fiasco La La Land x Moonlight / Divulgação / oscars.org
Spike Lee se recusou a comparecer e pediu que as pessoas deixassem de assistir à transmissão pela TV, resultando no movimento #OscarsSoWhite (Oscars tão branco) e fazendo com que a Academia começasse a promover mudanças profundas para as premiações futuras. Já no ano seguinte, o que se viu foi uma cerimônia abarrotada de convidados e indicados negros, vitórias como a de Viola Davis na categoria de Melhor Atriz e de Moonlight - um filme cujo elenco é exclusivamente negro - como Melhor Filme, além de um discurso da então presidente da AcademiaCheryl Boone Isaacs, sobre a importância da diversidade. 

Viola Davis recebe o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante / Divulgação / oscars.org
Após o rolo compressor do movimento #MeToo em 2018 e acompanhando a ascenção da agenda DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) da new left americana, em 2020 a Academia anunciou mudanças nos critérios para a categoria de Melhor Filme à partir de 2024, onde os filmes deveriam preencher critérios de diversidade, equidade e inclusão em todas as esferas da produção para poderem concorrer. Dada a complexidade destes critérios, era de se esperar que houvesse um esvaziamento da categoria - ou pelo menos uma constante repetição de temas e composição de elenco entre os indicados, sendo esses os critérios mais fáceis de se preencher. Um dos efeitos dessas mudanças já foi registrado: para a cerimônia do dia 2 de março, 115 produções foram impedidas de concorrer à categoria.

Com tudo isso, é impossível não questionar que relevância tem hoje - e que terá futuramente - uma premiação que deixa de comtemplar a excelência da criatividade e do trabalho e passa premiar o nível de inclusão e diversidade. Toda premiação é uma competição e um incentivo às boas práticas, e isso não se faz presente no Oscar já há algum tempo. Sempre foi comum que o vencedor da categoria de Melhor Filme levasse também Melhor Direção e Melhor Roteiro - já que o melhor filme do ano deveria minimamente reunir essa duas qualidades - mas isso parece ter mudado, e o que se vê hoje é um esforço para deixar todo mundo feliz e não criar situações desconfortáveis, um claro reflexo da cultura de demonização da competitividade que existe atualmente na sociedade. Dessa forma, é inevitável o declínio na qualidade da produção, resultado de um nivelamento por baixo.

Foto do filme Ainda Estou Aqui / Divulgação / Globoplay
É óbvio que mesmo com tudo isso, nesse momento o Oscar está sendo mais do que relevante no Brasil, com um filme e uma atriz nossos voltando à premiação depois de 27 anos e concorrendo às 3 categorias mais importates - mas se não fosse por isso, será que estaríamos tão interessados? O fato de Ainda Estou Aqui estar concorrendo simultâneamente à Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro dificulta levar o Oscar a sério, coisa que já vinha acontecendo desde que Parasita venceu como Melhor Filme em 2020. Fica a impressão de que é preciso premiar filmes de outros países e mercados menores, pra passar a imagem de diversidade.

Sendo assim, repito a pergunta: que relevância pode ter uma premiação dessas?

E você caro leitor, o que acha disso tudo? Concorda ou acha que tudo isso só torna o Oscar mais relevante ainda? Nos conte nos comentários!

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