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Divulgação/ NieR Reincarnation |
Bem vindos a segunda matéria desta série.
Para quem começou por este texto, cabem algumas explicações.
A princípio, o foco da série é explorar vídeo games enquanto
cultura e criadores que contribuem neste quesito, das mais variadas formas
possíveis.
Sempre começo apresentando o entrevistado, após isso adentro
na parte das perguntas.
Igor é dono do canal "Jogo que Roda", focado na lore de NieR e de todo o Yokoverso.
Educador de profissão, esbanja uma didática exemplar, o que
torna seus vídeos compreensíveis mesmo se tratando de assuntos complexos e por
vezes confusos.
Além do canal, de dar aulas de inglês, Igor é mestre em medicina veterinária e faz traduções para dublagens.
Entrevista
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Divulgação/ NieR Reincarnation |
1. Qual é a sua relação com literatura e histórias em geral?
R. Minha relação começou muito cedo, gosto de ler desde sempre. Não lembro de uma fase que eu tenha dito "nossa, literatura é chato", ela sempre esteve presente, sempre fui "o que gosta de ler". Meu estilo literário favorito é o realismo mágico e meu autor preferido não poderia ser outro senão Gabriel García Márquez.
2. O quê o levou a se interessar na lore de jogos? Para você, a mídia é um suporte menosprezado nesse sentido?
R. Acho que o que fez eu me interessar pela lore de jogo foi o meu primeiro contato com RPGs. Até então eu jogava mais "beat'em up", jogos de luta e plataforma, mas Chrono Trigger surgiu na minha vida, aí foi um caminho sem volta. Claro que todos esses estilos que citei antes têm histórias bem legais, mas eles não são movidos pela história como um RPG, e acho que foi isso que me encantou em Chrono Trigger: a história é um elemento indissociável do jogo, você precisa entendê-la pra aproveitá-lo em sua plenitude.
Infelizmente acredito que videogames ainda sejam uma mídia menosprezada como ferramenta para se contar histórias. Claro que a situação hoje é bem diferente do que era quando eu estava jogando Chrono Trigger no século passado, mas acredito, sim, que videogames ainda não atingiram o mesmo patamar de respeito de livros e filmes para o público em geral.
3. Sabemos que você é grande fã de Nier e tudo ao redor da obra. Yoko Taro é um grande contador de histórias e explora bem o seu trabalho em "transmídia", poderia apresentar NieR e as demais obras do autor para os nossos leitores?
R. Hora de apresentar a obra do Yoko Taro! Tentarei ser breve!
Os trabalhos mais conhecidos do Yoko Taro são as séries Drakengard, NieR e SINoALICE, que compõem um grande multiverso com múltiplas linhas temporais, chamado “Yokoverso”. Seus jogos são conhecidos por misturar histórias melancólicas com grandes reviravoltas, tudo isso com jogabilidades que podem variar entre um Hack ‘n Slash com dezenas de inimigos, voos montados em dragões e até uma simulação de fazenda para cultivar a flor perfeita.
NieR: Automata, seu maior sucesso até
agora, atrai o público não apenas pelo seu combate fluido, mas pela trama que
questiona a natureza da humanidade e o que de fato significa ser humano. Você
realmente se apega emocionalmente a esses androides que só estão procurando um
propósito na vida.
Além dos jogos, o Yokoverso se estende por
outras mídias: peças teatrais, livros, concertos musicais e, recentemente, o
anime “NieR: Automata 1.1a”, que expandem ainda mais o Yokoverso. Uma coisa
interessante sobre as peças teatrais e os livros é que eles possuem várias
versões da mesma história, todas mudando detalhes cruciais que influenciam nas
linhas temporais do Yokoverso.
E se vocês tiverem dúvida de qual linha
temporal é a canônica, a resposta é fácil: TODAS. Exatamente, todas as linhas
temporais, com todas as suas nuances e desdobramentos, são oficiais e fazem
parte do todo do Yokoverso, inclusive as colaborações com outros jogos. Então
as colaborações com Final Fantasy XIV
Online, Stellar Blade, Soul Calibur 6, Granblue Fantasy e tantas outras são
todas canônicas dentro do Yokoverso.
Além das obras relacionadas ao Yokoverso,
Yoko Taro também é responsável pelos três RPGs da série Voice of Cards, que são
jogo muito interessantes que simulam um RPG de mesa. Recomendo demais que vocês
conheçam.
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4. Quais obras você gostaria que tivessem mais visibilidade ou que definem bem o Igor?
R. Ultimamente eu venho desejando que algumas séries antigas retornem. Acho que Breath of Fire da Capcom já passou da hora de ganhar um novo título ou um remaster/remake. E claro, a série Chrono também merece mais atenção; sou apaixonado por Chrono Trigger e Chrono Cross e acho que uma nova visita à série cairia bem.
5.
Quais são os jogos mais "no brain" que você
gosta, aqueles os quais joga unicamente pela mecânica?
6. Você já esperava a boa recepção em relação a seu conteúdo? O quê pensa sobre a comunidade que se formou? (A galera que é a cereja do bolo)
R. Eu não esperava, mas desejava. O “Jogo que Roda” é o meu terceiro canal (os outros dois ainda existem, mas ficarão esquecidos em algum canto do YouTube) e eu o levo dentro do meu coração. Tem dias que parece que tudo tá dando errado, bate aquela bad, daí eu penso “mas eu tenho um canal muito legal” e tudo melhora. Ele ainda é pequeno, mas eu o levo com muito carinho.
A comunidade do canal, que é a cerveja do
bolo, não a cereja, é incrível. Eles me apoiam, me animam, torcem por mim e
admiram meu trabalho. Eu não poderia pedir uma comunidade melhor do que a que
consegui construir com meu canal.
E, caso estejam curiosos, eles são a “cerveja
do bolo” por causa de um erro de digitação de uma pessoa no grupo. Achei
engraçadíssimo, coloquei num vídeo e resolvi oficializar.
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7. Como você vê a relação tão mencionada entre aprendizado de inglês e vídeo games?
R. Uma dica que sempre dou para meus alunos, independentemente da idade, é que o segredo para aprender qualquer idioma é imersão, quanto mais contato você tem com o idioma melhor, seja nas aulas, séries, filmes, livros, quadrinhos, jogos, bula de remédio, sei lá!
No meu caso, eu sempre tive facilidade com o idioma, eu pegava muito rápido. E jogando videogame, eu meio que tinha que me virar pra entender, especialmente porque eu já gostava muito de RPGs e praticamente não havia localizações oficiais.
Hoje o cenário é completamente diferente de quando eu estava aprendendo inglês. Os jogadores fazem questão dos jogos estarem em português e há quem não compre jogos que não estejam no nosso idioma. Por um lado, isso é muito bom, mostra nossa representatividade no mercado e, venhamos e convenhamos, é extremamente razoável exigir que o jogo esteja do seu idioma depois de gastar mais de 300 reais com ele.
Por outro lado, sob a ótica de quem dá aulas de inglês há mais de 10 anos, eu consigo perceber uma diferença nos meus alunos. Eu lembro que os alunos que jogavam videogame tinham muito mais vocabulário e desenvoltura do que os que não jogavam; quando eu ia dar aula particular e via um console na casa do aluno, já sabia que ele teria menos dificuldade que os outros. Atualmente percebo que os alunos que jogam e os que não jogam têm praticamente as mesmas dificuldades.
8. No início, você era apenas narrador dos vídeos, mas hoje em dia já aparece, essa transição foi confortável para você? O quê diria para aqueles que, como nós, gostam de falar de suas paixões e de divulgar elas para outros possíveis fãs, mas são inseguros em relação a própria imagem ou conteúdo?
R. Sobre essa história de mostrar o rosto. No começo eu tinha muito medo do tribunal da internet, as pessoas adoram tacar hate por qualquer coisa. Eu fui fazendo a transição aos poucos: comecei mostrando o rosto em lives, depois passei a mostrar nos vídeos.
Acho que a virada de chave foi um vídeo que vi no TikTok, acredita? Um cara veio e falou algo do tipo “você é só mais um rosto no meio de muitos, a maioria das pessoas não vai nem lembrar que te viu quando chegar em casa, não precisa ser tão envergonhado.” Daí eu tive essa epifania e percebi que seria só mais um rosto no meio desse mar de rostos na internet e isso meu deu mais segurança pra gravar.
Agora, mostrar o rosto tem suas vantagens e desvantagens. A maior desvantagem para mim é que não posso gravar a qualquer momento e em qualquer lugar. Preciso de uma luz legal, preciso pensar nos meus gestos enquanto falo, nas caras que eu estou fazendo, são muitas camadas a serem consideradas. Além disso, eu gravo e regravo o mesmo segmento diversas vezes até eu achar que ficou bom, mudo meu tom de voz, o movimento que eu faço com a cabeça, o movimento das mãos...
A vantagem é que fica mais fácil de editar. Eu não preciso sair procurando uma gameplay ou uma imagem que faça sentido com o que eu quero dizer, então economiza muito o meu tempo.
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Deixo também meu testemunho de anos atrás, quando a única forma de consumir este universo era pelos vídeos do JqR.
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