Em 1983, servindo apenas como uma simples piada entre dois amigos, surgiu um desenho totalmente ortodoxo de uma tartaruga se sustentando nas patas traseiras, usando uma máscara nos olhos e fazendo uma pose de arte marcial. Mal esperavam estes dois jovens, chamados Kevin Eastman e Peter Laird, que em alguns meses eles lançariam uma história em quadrinhos independente baseada naquele simples esboço e numa narrativa madura de irmãos ninjas combatendo uma milícia japonesa nas ruelas da cidade de Nova York, e muito menos que, 40 anos depois, ela se tornaria uma das franquias mais rentáveis e reconhecidas dos últimos anos.
A jornada das nossas queridas Tartarugas Ninja (Teenage Mutant Ninja Turtles, ou TMNT) foi marcada por diversas adaptações e produções nos mais inusitados cantos da mídia que consolida o que chamamos de cultura nerd, transformando para sempre as vidas de seus criadores e dos irmãos Leonardo, Raphael, Donatello e Michelangelo. Desde seu primeiro quadrinho preto e branco, lançado em Maio de 1984 pela Mirage Studios, a histórias do quarteto ganhou rapidamente uma legião de fãs devotos que cresceu exponencialmente com o lançamento das produções seguintes, sendo elas a série animada de 1988 (que trouxe uma visão mais infantilizada da jornada dos ninjas, como a separação dos irmãos por cores, o slogan “Cowabunga!” e o amor por pizza), os videogames de 1989 desenvolvidos pela Konami (que se tornaram um dos produtos mais lucrativos para a empresa e um importante marco nos videogames side scrollers de luta cooperativa, trazendo inúmeros títulos adicionais até a metade da década de 90), uma peça de teatro e o filme live-action de 1990 (sendo um dos filmes mais vistos do ano e servindo como ápice da era de ouro das tartarugas).
Aliás, o filme em questão é relevante até hoje e muito disso se sustenta pela narrativa que mescla os melhores elementos da animação e dos quadrinhos de Eastman e Laird, pela direção de Steve Barron (diretor dos videoclipes “Billie Jean”, de Michael Jackson e “Take On Me”, da banda A-Ha) e pelas fantasias das tartarugas, costuradas pela equipe de produção de Jim Henson (Os Muppets; Vila Sésamo), sendo este um dos últimos filmes no qual o próprio trabalhou antes de sua morte.
O futuro parecia bastante promissor: os quadrinhos ainda eram publicados, a série animada foi um enorme sucesso pelos seus 8 anos, duas sequências do filme original foram produzidas e as máquinas de arcade dos ninjas estavam em todas as lan houses do país! Mas em 1997, com o lançamento da série live-action Ninja Turtles: The Next Mutation (onde tivemos a introdução de uma tartaruga feminina, chamada de Venus), a dupla se desentendeu em alguns planejamentos criativos e Eastman vendeu sua parte dos direitos autorais para Laird, que usufruiu desta oportunidade para desenvolver sua própria visão da história, uma mais voltada para a jornada original dos quadrinhos, através da animação de 2003.
Neste momento, a era de ouro se encerrou e iniciou-se um longo período de experimentação para a franquia, com a produção do filme totalmente em 3D de 2007 (que muita gente não curte, mas eu amo de coração) e o especial animado Turtles Forever de 2009, comemorando os 25 anos das tartarugas em uma das primeiras aventuras animadas envolvendo o multiverso como o conhecemos ao juntar a equipe das tartarugas de 2003 com as de 1989, incluindo uma aparição rápida da equipe original dos quadrinhos.
Logo depois, Laird se sentiu satisfeito com sua criação e entregou os direitos da franquia para a Nickelodeon, que os possui até hoje. Com sua saída, Eastman decidiu trabalhar de novo com os personagens e iniciou uma nova saga nas HQs em 2011 pela editora IDW que perdura até hoje, junto de outras franquias como Lock & Key, Star Trek, Godzilla, My Little Pony e Sonic The Hedgehog. Nas demais vertentes, uma nova animação em 3D foi lançada em 2012 com grande apreciação dos fãs durante suas 5 temporadas, e logo em seguida, dois filmes live-action extremamente realistas foram lançados em 2014 e 2016, com produção do Michael Bay (e se vocês se lembram do que rolou com a franquia Transformers na mão dele, dá pra se ter uma noção do resultado final…)
Enquanto isso, os direitos dos jogos das tartarugas foram passados para a Ubisoft logo depois da conclusão da série animada de 2003. Em 2010, ela perdeu os direitos dos ninjas para a Activision após o lançamento de vários jogos sem sucesso, mas os esforços da nova empresa não serviram de ajuda, gerando diversos jogos mal feitos no decorrer da década e fazendo com que o quarteto tivesse mais relevância quando aparecia como personagens de DLCs de outros jogos, como Tony Hawk Pro Skater 5, Smite, Brawlhalla, Hot Wheels Unleashed, Fortnite e Injustice 2. Além disso, vale lembrar que vimos o quarteto aparecendo em diversas franquias da cultura nerd através de crossovers com Batman (Batman vs. Teenage Mutant Ninja Turtles, 2019), Power Rangers (Power Rangers In Space, 1998) Os Caça-Fantasmas, He-Man, Arquivo X, Transformers, G.I. Joe e muitas outras!
Fechando a década de 2010, tivemos a última série animada das tartarugas em 2018, chamada Rise of the Teenage Mutant Ninja Turtles e trazendo um estilo completamente diferente de animação oriental com um design único para cada uma das tartarugas, o que causou muita intriga nos fãs. A série foi cancelada e terminou sua produção com um filme animado direto para o streaming em 2022, fechando um arco das tartarugas que pode ter sido inovador demais para seus tempos.
Mesmo com alguns contratempos, a década de 2020 tem sido uma das mais relevantes para os personagens, que se iniciou graças ao lançamento do arco de histórias em quadrinhos The Last Ronin, escrito por Eastman, Laird e Tom Waltz em 2020, com a jornada da última tartaruga numa versão apocalíptica de Nova York, onde vemos ela lutando contra as forças do Clã do Pé para se vingar da morte dos seus irmãos. Em 2022, a linha de jogos da franquia deu uma reviravolta ao retornar ao estilo side scroller que fez tanto sucesso nos anos 80 com o jogo Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge e o lançamento da coletânea dos jogos clássicos pela Konami, intitulado Teenage Mutant Ninja Turtles: The Cowabunga Collection, sendo que ambos se tornaram enormes sucessos para os fãs dos arcades!
E em 2023 vimos as tartarugas voltarem aos cinemas com uma aventura emocionante em animação 3D, Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem, ou As Tartarugas Ninja: Caos Mutante, mostrando uma nova geração de ninjas com todas as características nas quais poderíamos descrever um adolescente do século 21. Trazendo um universo que aceita as tartarugas pelo que elas são e sem deixar de lado a ação e a pancadaria que o ninjistu dos irmãos nos proporciona, o filme se tornou um sucesso de bilheteria e já tem continuação programada para os próximos anos.
Tendo em mente tudo o que se passou com o quarteto nos últimos 40 anos, não parece que eles vão parar agora de animar a galera! A saga de The Last Ronin ganhará adaptações maiores de 18 para os consoles e para os cinemas nos próximos anos, teremos mais dois jogos das tartarugas lançados para este ano (Teenage Mutant Ninja Turtles Arcade: Wrath of the Mutants e Teenage Mutant Ninja Turtles: Splintered Fate), a IDW recentemente lançou um quadrinho crossover com Stranger Things e o universo do filme Caos Mutante receberá duas continuações em 2024: a animação Tales of the Teenage Mutant Ninja Turtles (na Paramount Plus) e o jogo Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Unleashed, previsto para sair no final do ano.
Eastman e Laird nunca esperavam que as Tartarugas Ninja se tornariam o que são hoje, mas depois de tudo isso, vivemos em um mundo onde muitos não conseguem imaginar como seria a vida deles sem esses irmãos se ajudando e combatendo o crime nas nossas televisões, nas nossas revistas, nos nossos cinemas e nos nossos corações! Esses 40 anos servem para comprovar o quão forte é o poder das tartarugas, e parece que essa chama vai ficar acesa por muito mais tempo.
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