O DUBLÊ: Diversão pura mesclada com tudo o que há de melhor em filmes de ação: pirotecnia e acrobacias espetaculares!

Recorte do cartaz de O Dublê, com Ryan Gosling e Emily Blunt / Reprodução / Universal Pictures

À essa altura do campeonato, todos nós já deveríamos saber que qualquer obra cinematográfica com o nome de David Leitch na produção e/ou na direção pode muito bem ser uma das melhores experiências para os amantes do gênero de ação e aventura, trazendo um timing cômico extremamente bem executado e muita pancadaria generalizada! Afinal, seus anos de trabalho como dublê profissional e os filmes dos quais ele fez parte falam por si só, seja atuando como dublê (Tron: O Legado; X-Men Origins: Wolverine; Clube da Luta; Matrix Reloaded e Revolutions; Sr. e Sra. Smith; Speed Racer), trabalhando como produtor (saga John Wick; Anônimo; Noite Infeliz) ou como diretor (Atômica; Deadpool 2; Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw; Trem-Bala), e é muito reconfortante poder ver que o mesmo se aplica para O Dublê (ou The Fall Guy)


Foto de produção de O Dublê, com Ryan Gosling conversando com diretor, David Leitch, à esquerda / Reprodução / Universal Pictures

Estrelando Ryan Gosling (Barbie; Drive; La La Land), Emily Blunt (Oppenheimer; Jungle Cruise; Um Lugar Silencioso) e Aaron Taylor-Johnson (Kick-Ass; Vingadores: A Era de Ultron; Tenet; Trem-Bala), temos uma história escrita por Drew Pearce (roteirista de Hotel Artemis, Missão: Impossível - Nação Secreta e Homem de Ferro 3) que se “inspira” numa série de 1980 de 5 temporadas com o mesmo nome, onde vemos a jornada de Colt Seavers, um dublê de Hollywood que possui um trabalho de meio-período como caçador de recompensas anônimo, usufruindo de suas habilidades desenvolvidas por trás das câmeras para salvar vidas e deter criminosos como um vigilante desconhecido. 


O resultado final deste roteiro, entretanto, não aborda nenhum tema sobre a segunda profissão do protagonista (interpretado por Gosling), mantendo-o apenas como um dublê extremamente confiante e que está perdidamente apaixonado pela diretora de seu mais novo filme (Jody Moreno, interpretada por Blunt). Depois de um acidente nas gravações, Colt decide sair do ramo e tomar esse tempo para se curar e passar pelo estresse pós-traumático dos eventos, se afastando de tudo e de todos. Após ser “convocado” de volta ao set de filmagens e confrontar o amor de sua vida (que se sente traída pelo sumiço repentino do dublê), ele recebe uma “missão secundária” da produtora do filme: procurar a estrela principal, Tom Ryder (interpretado por Taylor-Johnson), que aparentemente foi raptado por ter se envolvido com um grupo de pessoas “barra pesada”. 


Recorte de cena de O Dublê, com Ryan Gosling e Emily Blunt / Reprodução / Universal Pictures

Como pode-se ver, a história não chega a ser algo surpreendentemente complexo ao trazer uma trama de espionagem que diverte o público geral, e o desenvolvimento do casal principal parece ser fofo e utiliza dos momentos cômicos para parecer mais realista e cativante, mas algumas decisões narrativas nos permitem ver os furos no roteiro.


Um exemplo desses furos existe com Jody, que se sente magoada pelo PTSD (ou TEPT) do protagonista ter acabado com seu breve romance e joga na cara dele e de toda a equipe de produção do filme uma DR (discussão de relacionamento) mascarada como o enredo do longa. Outro momento semelhante à esse é quando Colt se desculpa por ter se afastado da diretora e da profissão, buscando fazer de tudo para retomar a relação - o que é fofo, mas menospreza o seu episódio traumático e a forma como ele lidou com ele como se fosse imaturidade masculina, como se ele fosse o único que errou nisso tudo.


Entretanto, mesmo com alguns deslizes, a história em si é divertida e te deixa ligado na tela do começo ao fim, e muito disso se dá pelo excelente timing cômico dos protagonistas em tela, como Gosling mostrando que é um exímio "Don Juan" sem deixar a sua sensibilidade de lado enquanto tenta fazer sentido de toda a loucura onde ele se enfiou, ou até com Blunt, que consegue tirar gargalhadas ao satirizar as tentativas de Colt de reconquistar o coração da diretora (como uma clássica tsundere, se a galera dos animes entendeu…), ou quando ela simplesmente decide alterar partes do roteiro do filme, alterando o próprio longa num divertido exemplo de metalinguagem bem executado.


Foto de filmagens de O Dublê, mostrando acrobacia que quebrou recorde mundial / Reprodução / Universal Pictures

Mas certamente, a melhor parte do filme são as cenas onde os dublês (os reais, não os personagens do filme) entram em ação. Leitch mostra com exímio profissionalismo o quão bem ele consegue retratar uma arte da qual ele demonstra tanto carinho e tanta maestria ao longo dos anos, fazendo com que cada cena de acrobacia tenha a grandiosidade que ela merece, como foi o caso com uma acrobacia onde vemos Colt rodopiar um carro por 8 vezes e meia enquanto dirigia em alta velocidade numa praia. Esta cena se tornou uma das mais importantes do filme por ter quebrado um recorde mundial, documentado pelo livro de recorde do Guinness em 2006 por uma acrobacia de Casino Royale, filme da saga do personagem James Bond.


Seja numa perseguição em alta velocidade com uma caçamba de caminhão de lixo revirando a cidade, seja numa batalha de socos e tiros dentro de um pequeno helicóptero à alguns metros no ar, seja mostrando um cachorro muito bem treinado para morder as partes íntimas dos vilões ou jogando um barco no meio de um tanque de combustível, apenas para explodi-lo em uma exuberante bola de fogo: O Dublê nos mostra todos os variados tipos de acrobacias e façanhas que os dublês conseguem fazer de melhor, sempre com uma generosa quantidade de pirotecnia para todos os lados e da música “I Was Made For Loving You” da banda KISS, utilizada diversas vezes em formato instrumental ou na versão desenvolvida para o filme pelo cantor YungBlud.


Recorte de cartaz de O Dublê / Divulgação / Universal Pictures

O único recado que eu posso dar para vocês, caros leitores do blog, é que vejam este filme e compartilhem a existência da obra! Os deslizes no roteiro e o péssimo marketing do longa por conta da Universal Pictures certamente causou uma baixa visibilidade para o filme, que não chega aos pés do último projeto do diretor, Trem Bala, mas O Dublê tem tudo para ser um filme tão divertido quanto o longa com Brad Pitt (Clube da Luta; Sr. e Sra. Smith; Era Uma Vez Em… Hollywood), Joey King (O Ato; A Barraca do Beijo; Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge), Hiroyuki Sanada (Xôgum: A Gloriosa Saga do Japão; Wolverine - Imortal; John Wick 4: Baba Yaga) e Brian Tyree Henry (Godzilla e Kong: O Novo Império; Homem-Aranha: Através do Aranhaverso; Transformers: O Início), e certamente toda sua produção deve ser apreciada pela incrível homenagem que é para uma profissão tão arriscada e tão sub categorizada pela indústria do entretenimento.


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