Além do Oscar: o gênio da animação que não se curva a Hollywood

A Viagem de Chihiro/Studio Ghibli/Divulgação

Desde que o Oscar de Melhor Filme Animado foi criado, em 2001, o Studio Ghibli lançou doze longas e concorreu à estatueta em sete ocasiões, sendo quatro com filmes de Hayao Miyazaki. Vencedor em duas oportunidades, ele não compareceu a premiação em nenhuma delas.

Em 2003, quando o inesquecível A Viagem de Chihiro venceu a categoria de melhor animação, derrotando Spirit: O Corcel Indomável (Dreamworks), Lilo & Stitch (Disney), A Era do Gelo (Fox) e O Planeta do Tesouro (Disney), Miyazaki faltou à cerimônia e anos mais, em 2009, ele concedeu uma entrevista justificando a sua ausência: seu repúdio à política de guerra dos Estados Unidos no Iraque.

A razão pela qual não fui aos Estados Unidos para receber o Oscar foi porque não queria visitar um país que estava bombardeando o Iraque. Na época, meu produtor, Toshio Suzuki, presidente da Ghibli, me disse para calar a boca sobre isso, e eu não pude falar sobre meu verdadeiro raciocínio. A propósito, ele também compartilhava desse sentimento.

Vencedor na categoria de melhor animação pela segunda vez, o diretor Hayao Miyazaki faltou novamente à cerimônia do prêmio de Hollywood no Oscar 2024. Desta vez, o japonês faturou a estatueta por O Menino e a Garça. Os dois filmes produzidos pelo Studio Ghibli e dirigidos por Miyazaki são as únicas obras em língua não-inglesa a vencer a categoria.

O Menino e a Garça/Studio Ghibli/Divulgação

Filmes como Nausicaä do Vale do Vento (1984), Porco Rosso: O Último Herói Romântico (1992), A Princesa Mononoke (1997) e O Castelo Animado (2004), evidenciam que a temática anti-guerra é uma das grandes fontes de inspiração para Miyazaki. O Menino e a Garça, inclusive, mostra a mãe do protagonista sendo vítima de um bombardeio da guerra no Japão. Nascido em 5 de janeiro de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, Hayao Miyazaki adquiriu uma postura pacifista e tal característica é utilizada na criação e desenvolvimento da maioria das suas obras.

Além de esnobar a premiação do Oscar por questões principiológicas, o diretor japonês também demonstrou muito apreço e respeito à fidedignidade das suas produções. Um fato inusitado ocorreu quando o produtor americano Harvey Weinsten ameaçou processar o Studio Ghibli por causa da duração de um dos seus filmes.

Na época, a Miramax, produtora que negociou os direitos de distribuição de A Princesa Mononoke nos EUA, era chefiada por Weinstein, que exigiu que o filme tivesse sua duração original de 135 minutos reduzida para 90. A recusa de Hayao Miyazaki despertou a ira do produtor norte-americano, que teria proferido diversos palavrões e ameaçado destruir a carreira do diretor japonês.

A Princesa Mononoke/Studio Ghibli/Divulgação

Porém, o Studio Ghibli manteve sua posição e se recusou a editar o filme, que chegou aos cinemas em sua duração completa. Segundo o jornal britânico The Guardian, o episódio deu origem à lenda de que a resposta de Hayao Miyazaki ao destempero de Harvey Weinstein teria sido o envio de uma espada samurai com um bilhete escrito “sem cortes” grudado na lâmina.

É admirável a firmeza de propósito que norteia as decisões de Hayao Miyazaki, sobretudo em mundo onde o business sempre é o fator que permeia as ações e tomada de decisões. O gênio japonês que não se curva às vontades de Hollywood já tem seu nome registrado entre os grandes diretores da história do cinema.

Postar um comentário

0 Comentários