O Rei Leão é um dos filmes mais aclamados de todos os tempos e com toda razão! A jornada cativante de Simba e a representação do Serengeti e seu reino animal é animada de forma fenomenal pela equipe da Walt Disney Pictures, e depois de quase 30 anos de seu lançamento, a história já foi recontada diversas vezes. Em prol desta data comemorativa, não vejo outra opção a não ser celebrar a versão definitiva desta história!
Não, não to falando da versão original…
Também não é da versão de musical (apesar dela estar bem próxima de ser a melhor versão).
E claramente não estamos falando da triste adaptação “live-action” de 2019!
Pessoas de quaisquer gêneros que estejam lendo essa matéria, temos que admitir e entrar em consenso, como sociedade, que Rei Leão 3: Hakuna Matata (Ou “O Rei Leão 1 e ½”, se tu for americano) é a melhor versão já contada de “O Rei Leão”! (simplesmente por ser a mais engraçada).
Qualé, vamos ser sinceros, você tem o Timão e o Pumba como personagens principais, tem uma animação excelente, a história original (em segundo plano), piadas hilárias, quebras da quarta parede, comentários em tempo real, backstory de uma das melhores duplas dinâmicas da Disney, uma trama de auto-descoberta e pertencimento, o desenvolvimento de uma bela amizade, a narrativa cotidiana de dois pais solteiros que precisam criar, cuidar e desenvolver a mente de um órfão traumatizado pelo seu passado, a chave para o sentido de uma vida sem preocupações e a chance de ver a construção de momentos importantíssimos de uma das jornadas mais épicas e aclamadas da história do cinema, e você não acha isso perfeito?
Brincadeiras à parte (só que não), eu estava me programando para revisitar algumas produções geeks que estariam fazendo aniversário em 2024 no blog, assim como já discutimos sobre os 70 anos de Godzilla, e descobri que O Rei Leão fará 30 anos em alguns meses, como dito anteriormente. Entretanto, depois de buscar mais um pouco e descobrir que a última parte da trilogia faz 20 anos hoje, aproveitei a oportunidade para escrever essa matéria/resenha.
Primeiro de tudo, se você não viu a versão original do filme de 1994, a comédia deste filme de 2004 não te surtirá muito efeito, já que o desenrolar da trama acontece em duas partes: uma em torno das desavenças que Timão e Pumba passam em busca de seu lugar no mundo e como isso causou (ou foi causado por) alguns pontos narrativos da obra original e outra em torno da perspectiva do dupla quando eles são efetivamente inseridos na jornada de Simba como guardiões não-legais, colegas de fraternidade e aliados na luta pelo trono. Diferente do primeiro filme, onde seguimos a trama como observador da história de vida de Simba, agora Timão está literalmente com a mão no controle e rebobinando o filme para momentos que são importantes para sua própria narrativa, junto com comentários dos acontecimentos em tempo real por parte da dupla dinâmica assistindo ao filme conosco.
O resultado é como se eles estivessem nos mostrando um slideshow cheio de fotos e vídeos das aventuras deles pelo Serengeti e comentando cada um dos acontecimentos, mas não se torna algo cansativo pois as piadas funcionam com a dupla se envolvendo nos acontecimentos e proporcionando uma boa representação da quebra da quarta parede antes disso se tornar modinha demais. E é cômico ver como algumas cenas realmente aconteceram por conta das interferências das ideias ridículas do Timão e da forma como Pumba só está aproveitando o passeio e a oportunidade de ter um amigo por perto, o que instiga em mais confusão de forma ingênua por parte dele. Momentos icônicos como o primeiro encontro da dupla, a cena da apresentação do Simba ao reino, a perspectiva dos dois perante o habitat das hienas (de onde eles tentam sair de fininho) ou o quão incomodados eles ficaram com a música “O Que Eu Quero Mais É Ser Rei” e o resgate do filhote no meio do deserto são incrementados com apontamentos e indiretas sobre a perspectiva do que a dupla estava pensando em cada um desses instantes da narrativa.
Vale a pena apontar alguns problemas que senti com o filme: claramente, depois de 20 anos, algumas piadas não conseguem mais se manter, várias delas por questão da referência ao mundo contemporâneo que o dublador quis mencionar na época e que já não possuem mais relevância atualmente. Outro ponto negativo que consigo perceber no decorrer da trama é o protagonismo focado no Timão que nunca consegue ser compartilhado totalmente com o Pumba, principalmente quando ambos deveriam ter mais relevância na história, me fez sentir que o Pumba é mais um coadjuvante do que uma co-estrela do longa: Não é como Mike e Sulley (Monstros S.A.), ou Woody e Buzz (Toy Story), às vezes parece que é Timão e o Pumba fica de reserva.
Esse protagonismo, entretanto, serve de auxílio para a narrativa do personagem na trama: Timão faz diversas coisas na sua comunidade com a premissa de que quer “melhorar o ambiente”, mas todos os resultados não são vistos como benéficos pelos suricates, que só se preocupam em cavar e se esconder para não servirem de presas. Todo esse inconformismo com o ciclo da vida que Timão sente causa a destruição das tocas dos suricates, diversos problemas para sua mãe, o desgosto do restante da comunidade e o fator principal por ele sair em sua jornada, para achar um lugar onde ele consegue “fazer o que faz de melhor”, que é claramente deixar tudo o mais confortável para ele.
Esse tom mais egoísta de Timão, pelo menos, se dissipa ao decorrer de sua amizade com Pumba e suas experiências ao cuidar de Simba. Quando o leão parte para a batalha e tudo parece se despedaçar ao seu redor, Timão tenta se segurar ao status quo e permanecer no paraíso que tanto batalhou para construir, apenas para perceber que seu oásis não era mais o mesmo sem todos aqueles que o transformaram naquilo, em conjunto dele. Assim, Timão quebra mais uma vez o paradigma dos suricates de ficar no lugar comum e confronta novamente o ciclo da vida ao se reunir com Pumba e seus parentes suricates para salvar o reino ao lado de Simba.
Sem me estender mais do que o necessário, as músicas são muito bem trabalhadas na trama, com uma junção de músicas populares (como os temas de “Peter Gunn” e “The Good, The Bad and The Ugly”, “The Lion Sleeps Tonight” ou “Sunrise, Sunset”, do clássico “Fiddler on the Roof”), versões novas ou recorte das músicas originais (como O Ciclo Sem Fim, O Que Eu Quero Mais É Ser Rei e uma versão karaokê de Hakuna Matata) e uma única música nova que toca no começo e no final do filme, apresentando o ciclo dos suricates de cavar o túnel para sobreviver (o pior é que essa é a música mais chiclete do filme e ela não vai sair da sua cabeça por pelo menos duas semana). O elenco é excelente, com quase todo mundo do elenco original retornando para reprisar seus papéis, menos Jeremy Irons e James Earl Jones (motivos pelo qual Scar e Mufasa não possuem falas no filme), enquanto que Rowan Atkinson (Zazu) e Jonathan Taylor Thomas (Simba jovem) tem seus papéis trocados por Edward Hibbert e Matt Weinberg, respectivamente.
Esse final da trilogia consegue quebrar as expectativas de uma forma fenomenal sem perder a essência do que torna essa história em algo tão relevante, permitindo que ele em si se torne uma sátira do próprio conto shakespeariano que os primeiros dois filmes retratam (Rei Leão 1 sendo Hamlet e Rei Leão 2 sendo Romeu e Julieta), principalmente do primeiro por se tratar de uma releitura por trás dos panos deste filme em questão. Rei Leão 3: Hakuna Matata serve para lembrar que nem tudo se concentra em uma história principal entre heróis e vilões e a necessidade de um equilíbrio para que o ciclo sem fim permaneça inalterado: às vezes o importante é só viver a vida um dia de cada vez e aceitá-la a partir do que conseguimos aproveitar dela, e se existe uma força maior por trás dos panos nos puxando para algo além de nós, tá tudo bem não aceitar de cara, ou priorizar nosso bem estar.
Se você está feliz do que você conquistou até agora e se sente bem onde está, então tudo bem! Isso é viver, é aprender, é Hakuna Matata.
A trilogia de O Rei Leão, assim como a versão live-action de 2019 e a série animada Timão e Pumba estão disponíveis agora no Disney Plus
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